quinta-feira, 3 de maio de 2012

Nada mais doce!

Oí cáras tudo beín?!

No meio de tantos trabalhos, testes e fome em África, algo de 'interessantemente' ridículo aconteceu neste pais (para além dos políticos em geral e do campeonato de futebol português). O Pingo Doce abriu portas com uma promoção no dia do trabalhador, de se lhe tirar o chapéu... Meus amigos, foram 50% de desconto nas compras dos portugueses nesse dia. O caos. O horror. Para quem diz que queria ter lá estado para rir um pouco do desespero alheio e ainda aproveitar um bom regateio, ainda bem que não estiveram lá.  Filas para concertos de Lady Gaga são para meninos cujo odor é leite. O terror. A confusão. Passo a contar o meu testemunho neste fatídico dia.

Estava eu tão 'deprevenidamente' tranquilo em casa quando me apetece um pouco de atum. Nada mais normal que aproveitar o tempo livre e sair para ir aos traidores da Jerónimo Martins comprar atum holandês. Na minha inocência e pureza imensas, não tinha conhecimento da tamanha generosidade dos traidores, que agora pagam menos impostos e podem dar-se ao luxo de ofertas destas. Lá na Holanda tudo bem, mas o português não está preparado para estas pechinchas. A balburdia. O chinfrim. Caos instalado, a procura por atum já não foi a mesma. Tampas de sanita tornaram-se escudos e courgettes tornaram-se espadas (e outras coisas mais tarde, mas é outra história). O atum estava mesmo ali, nos enlatados, secção esta que estava com um brilho divino incomum, mas o alarido era de tal ordem desordeiro e mortal que o caminho normal deixou de ser opção. Lá me aventurei por caminhos desconhecidos e obscuros, a terrível e letal secção dos legumes e verduras. Por mais promoções que se fizessem, aquilo estava cheio. O pesadelo de qualquer criancinha que se preze era agora uma realidade obscura, pois só verde era visível, com pequenas visões de tons vermelhos e cheiro a terra e natureza. O quanto eu desejei o normal e comum ambiente poluído das cidades, o asfalto queimado e gases mortíferos, mas a presença da natureza era muito possante e uma snifadela mais forte nuns coentros curou-me logo o linfoma, aquele grande amigo que nunca vou esquecer. Estando muito mais saudável e terrivelmente triste com a perda de um amigo para a vida que me tinha atacado a medula, agora tudo o que me resta é uma vida longa e saudável. Entro na charcutaria e os enchidos, ao contrário dos legumes e do tofu, são uma raridade. Os poucos que restavam, estavam selvaticamente a ser discutidos por homens alegres e com vestes floridas e adolescentes do sexo feminino. Não consegui escapar de tão feroz batalha sem mazelas, e ainda vou na segunda, de cinco sessões cirúrgicas para retirar um pouco de salpicão que se encontra entranhado na minha camisa favorita. O pavor. A algazarra. Tendo conseguido sobreviver com marcas à batalha mais bárbara que um humano pode assistir e sofrer, cheguei ao meu objectivo. O pânico. A barafunda. Apenas uma lata de atum presente no corredor inteiro. Do outro lado... um cliente que também procurava o sabor divino e fácil de obter do peixe mais consumido por universitários (o único peixe que eles consomem). Trocámos olhares. Ele pega no frasco que sobrou de pickles e eu arrependido porque a arma que escolhi foi um courgette. Malditas adolescentes do sexo feminino. Começamos a correr em direcção ao atum, ele atira-me com pickles cheios de vinagrete, mas eu desvio-me com os meus reflexos felinos e atiro-lhe com rodelas de courgette. Ai reparo que rodelas de courgette são quase pickles, mas sem o sabor incrível dos pickles, logo estava em desvantagem. Mudei de estratégia e atirei o que restava do courgette contra o frasco de pickles, este parte-se e o cliente rival estatela-se no chão, causando bastante sofrimento a ele e uma risada daquelas a mim. Pego no atum, sorrio vitoriosamente e vou de encontro à caixa. O espalhafato. A anarquia. Filas e filas, para tão poucos trabalhadores que estavam de serviço no dia do trabalhador, os únicos que festejaram esse dia da forma correcta... a trabalhar! Finalmente, atendido... depois de estar entre um homem de estrutura e odor forte e uma senhora idosa que gostava de por a conversa em dia.

Finalmente tinha o atum que tanto desejava, no entanto reparei que me faltava o abre latas, que aquilo das aberturas fáceis é para meninos. Não consegui abrir a lata sem um equipamento próprio o que tornou a minha jornada insatisfatoria e um conto mitológico.

Vando Campos, 'O contador de histórias reais que são mentira'

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